“Eu tenho um sonho” – famosa frase do
discurso de Martin Luther King Jr. (1929-1968), proferido no “Lincoln Memorial”,
durante a “Marcha de Washington por Empregos e Liberdade”, pode ser o fio
condutor de nossas práticas como indivíduos e como sociedade.
Enquanto membro de um dos movimentos
sociais mais atuantes na cena político-sócio-cultural estadunidense, o
Movimento Americano pelos Direitos Civis, o Prêmio Nobel da Paz (1964), diante
de mais de 200 mil pessoas, expressou o seu desejo: que as crianças não fossem
julgadas pela cor de suas peles, mas pelo caráter delas.
Quando vários setores da sociedade
brasileira encontram em líderes políticos como Jair Bolsonaro e Marco Feliciano
na defesa de seus “princípios ideológicos” num discurso misógino, xenofóbico e
discriminatório contra os direitos de minorias, por acreditarem que o mundo
permanece como era há algum tempo atrás e desejam restaurá-lo à força de seus
dogmas religiosos, indica a atualidade da reflexão do pastor batista.
Luther King referiu-se ao que somos
por dentro e como reagimos aos fatores subjetivos que nos possuem. Neste
sentido: “Pessoas como Martin Luther King Jr. podem servir como terapeutas para
a cultura, o País ou o mundo em geral”, conforme Jennifer Selig, professora
fundadora da Pacifica Graduate Institute.
Mas, onde estão as pessoas que
respiram os ventos da liberdade, da paz, da vida como ela é; que choram com os
que choram; que olham do cume das montanhas e sentem que não podem parar de ir
para frente, mesmo diante das ameaças de morte que todas as tradições
representam?
Onde estão aqueles que, como Martin
Luther King Jr., querem que todos os brasileiros tomem posse da herança de
direitos que a nossa “Constituição Cidadã” nos garante e rasguem o “cheque sem
fundo” que aqueles que assumiram interinamente o poder querem nos passar?
Onde estão aqueles que, como o
Defensor da Igualdade dos Direitos Civis, “se recusam a acreditar que o banco da
justiça é falível, que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação”?
Onde estão aqueles que, como o Homem
do Ano pela Revista Time, acreditam que “agora é o tempo para transformar em
realidade as promessas da democracia, de erguer a nossa nação das areias
movediças da injustiça (corrupção) para a pedra sólida da fraternidade e não
satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio, mas
de se conduzir num alto nível de dignidade e disciplina”?
Onde estão aqueles que lutam para
que as pessoas injustas e opressoras possam conhecer o coração que aspira a
liberdade e a justiça; que somos muito mais do que parecemos daquilo que nos
diferencia racial, sexual, cultural, religiosa, econômica e politicamente; que
aqueles que vociferam que é preciso obedecer às condições que nos impõem
limites e amarram os sentimentos, podem unir as mãos com aqueles que pretendem
interditar e viverem como irmãos na construção de um País melhor; que é
possível àqueles que plantam discórdia semearem fraternidade; que aqueles que firmam
o desespero como montanha podem arrancar as ferramentas da esperança; que todos
somos capazes de trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, até sermos presos
se preciso for, mas, até cantarmos à uma só voz: “Meu País é seu”?
(Sílvio
Lopes Peres – Psic. Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a
Analista pela Associação Junguiana do Brasil (AJB/Campinas), filiada à IAAP – International
Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: (14) 99805.1090 / (14) 98137.8535)