Os candidatos que estão na disputa
eleitoral, pelos cargos executivo e legislativo, têm uma dívida com o povo:
apresentar um projeto de cidade “bela”.
As cidades merecem ser tratadas como
algo belo. Útil, mas belo. Prático, mas belo. Funcional, mas belo.
Não, os cidadãos não querem uma
cidade bonitinha, ingênua, agradável e fácil. A cidadania merece o belo que é
útil, prático e funcional. Aqueles que desejam exercer funções tão importantes
devem isto ao povo.
A beleza é reprimida todas as vezes
que viver nas cidades se torna disfuncional, não-prático e sem utilidade. Numa
palavra: sofrível.
A beleza está reprimida em nossas
lembranças e sensações com ela própria. É como se a beleza fosse artigo
supérfluo e insignificante diante de tantas necessidades. Isto quer dizer que
estamos perdendo a sensibilidade que só a beleza oferece.
Erramos denominando de belo apenas
ao visual dos lugares como: canteiros centrais floridos, árvores com refletores
de lâmpadas coloridas, semáforos modernos, uma escultura ou monumentos em
praças, iluminação especial.
Entretanto, precisamos considerar a
que estilo de vida estes investimentos têm nos levado: poluição sonora e
atmosférica; alta concentração de pessoas em espaços apertados; valorização
imobiliária que leva ao enriquecimento de poucos e, consequente, empobrecimento
da grande maioria por não terem acesso aos mesmos recursos; tráfego pesado e
poucas vagas de estacionamento; pouco tempo para se alimentar convenientemente;
gastos com combustíveis, porque as moradias estão mais distantes dos locais de
trabalho; péssimo serviço de transporte público; etc.
Tais condições geram: alto índice de
absenteísmo, obsessões sexuais, abandono das escolas e baixo índice de
aprendizagem, alimentação compulsiva, dependência química, escapismos em forma
de viagens turísticas, violência, irritação e raiva, ataques de pânico,
ansiedade, distúrbios de caráter, etc.
Lembremo-nos: Narciso se afogou não
por si mesmo, não pelo reflexo na água, mas pelo distúrbio da beleza que o
levou à desordem, à feiúra, à morte.
Não, a beleza não está nos olhos que
quem vê. Não, a beleza não é relativa.
A beleza é o perfume que os deuses
nos deixam quando nos visitam. Está no incomum, no maravilhoso, no delicioso,
no “do-outro-mundo”. Infelizmente, tendemos a tornar tudo como comum,
corriqueiro, normal. E, os políticos nos devem isto: revelar o incomum no
comum, executar projetos que nos levem a qualidade de vida, liberdade, aos
prazeres dos sentidos e não aos avanços tecnológicos sem alma, a doçura e
ternura.
O melhor que os candidatos podem
fazer pelo povo começa com o que podem fazer com eles, se perguntando, por
exemplo: por que gosto da minha cidade, por que é gostosa para mim e para minha
família, ou por que é gostosa para todos? Esta cidade me inspira a viver como
humano, ou como um empresário, comerciante, médico, psicólogo, militar,
professor? Que sentido tem as palavras de Rainer M. Rilke para mim: “Abandone a
selvageria. Seja terno ao toque. Acaricie a você mesmo, para sentir que você é
suave. É o seu próprio centro que você acaricia. Sua reflexão deve ser suave
como a luz da manhã. E, desta forma, você nos mostrará como Narciso é
redimido!”
(Sílvio Lopes Peres – Psic. Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a
Analista pela Associação Junguiana do Brasil (AJB/Campinas), filiada à IAAP –
International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: (14) 99805.1090 / (14) 98137.8535)