Em tempos de misoginia – ódio,
desprezo e repulsa ao gênero feminino e às características a ele associadas -,
violência doméstica e nas ruas, cumprir com as exigências culturais e
econômicas como trabalhar fora, educar os filhos, cuidar da casa, atender aos
padrões de beleza e da moda, competir no mercado de trabalho, tem se mostrado
um grande desafio para a grande maioria das mulheres.
Neste contexto, o pai desempenha um
papel crucial na vida das filhas, independente da faixa etária, se quiser
exercer uma paternidade suficientemente boa.
O pai é a pessoa que pode comunicar
à filha, com segurança, que ela pode ser mulher num mundo que exige muito dela,
sem que despreze sua feminilidade.
É ele que favorece a ideia de que
ela pode, inclusive, ser mãe, isto é, dá acesso aos vários caminhos que estão
disponíveis em nossa cultura, para que ela escolha, decida e continue a ser
quem ela é, que desenvolva e explore, como mulher, seu pleno potencial, sua
identidade pessoal, sua vocação, seu lado assertivo e agressivo, sua expressão
sexual, seu caminho espiritual.
“O resultado da luta de uma mulher
para sentir-se psicológica e socialmente inteira e integrada, e ao mesmo tempo
ser psicológica e socialmente diversificada é, em grande medida, moldado pelo
relacionamento pai-filha”, afirma o analista junguiano Andrew Samuels, em “A
psique política” (Rio de Janeiro: Imago, 1995, p. 179).
As filhas esperam que seus pais
sejam homens não aliados aos padrões restritivos colocados sobre as mulheres, mas
sim, alguém para quem existem muitas perspectivas e modos de ser mulher.
É importante que o relacionamento
pai-filha seja travado numa energia psicológica que ela viva coerentemente com
seus próprios sentimentos, impulsos, fantasias e instintos, sem a famigerada
culpa da “supermulher” e “supermãe” conforme os padrões veiculados pelos meios
de comunicação dirigidos ao público feminino.
O relacionamento pai-filha atua como
pano de fundo e pode ser suficiente ou insuficiente, quer dizer, proporcionar
satisfação ou insatisfação à vida da mulher.
Não são poucas as mulheres que
tentam manter sua agressão fora de seu casamento e sob controle no trabalho,
mas são consumidas pelo medo de que podem explodir num “ataque de nervos”, por
que seus pais reprimem, não aprovam, e/ou não sabem lidar com a agressividade
delas.
Sentimentos, impulsos, fantasias e
instintos nos caracterizam como seres humanos, e as mulheres têm direito de
expressá-los. E, os pais exercem um crucial papel nisso, no sentido de ajudar
as filhas a lidarem com isto sem culpa, ao contrário, valorizar-se e integrar
os fatores inconscientes ao modo de ser mulher.
Os efeitos de um pai emocional ou
fisicamente ausente/distante podem ser profundos para a filha: sentir-se
desvalidada pelos homens, até pelos filhos que venha a ter ou já têm; achar que
não possui nenhum poder de sedução e ser deixada pelo/a companheiro/a; ter
pouca confiança em si mesma, em suas capacidades de trabalho principalmente se
trabalha com homens menos capazes do que ela.
Reflita sobre isso, se você é pai de
uma mulher. Feliz Dia dos Pais!
(Sílvio
Lopes Peres – Psic. Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a
Analista pela Associação Junguiana do Brasil (AJB/Campinas), filiada à IAAP –
International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: (14) 99805.1090 / (14) 98137.8535)