Nem sempre as imagens comunicam a
verdadeira face das pessoas e seus reais objetivos. Muito facilmente nos
deixamos envolver por imagens sentimentalmente embelezadas, como se a realidade
não tivesse obscuridades.
Por exemplo: o governo interino do
País utiliza a imagem da Bandeira Nacional com o lema “Ordem e Progresso”, como
plataforma ideológica de defender decisões liberais, na tentativa de conservar
e aperfeiçoar aquilo que existe de bom, a “Ordem”, através da correção e
eliminação do que é ruim, para se alcançar o “Progresso”.
Sim, até governo interino tem
ideologia; e, a desse é defender a doutrina religiosa positivista: a busca e a
manutenção de condições sociais básicas – “respeito aos seres humanos, salários
dignos e o melhoramento material, intelectual e moral” da Nação -, conforme a
definição do referido lema no portal Wikipédia, que o próprio governo tem se
utilizado e processado alterações na defesa de seus interesses. Entretanto, as suas
propostas e decisões têm mostrado a direção contrária a estes conceitos. A
hipocrisia, como manifestação da perversão, se desmascara.
Neste contexto, nossos olhares
precisam refletir sobre os acontecimentos históricos, remotos e contemporâneos,
que marcam a nossa democracia. A justificativa para esse exercício está além de
uma mera oposição ao governo interino e seus planos, mas, trata-se de, séria e
verdadeiramente, procurarmos relacionar o desenvolvimento político com o nosso
desenvolvimento psicológico pessoal com a democracia.
Esse desenvolvimento não é alcançado
se permanecermos em nossas “zonas de conforto”. É preciso um envolvimento
pessoal com os conteúdos do inconsciente cultural brasileiro que tocam às
fragilidades do nosso processo democrático.
Não podemos encobrir com
subterfúgios as tragédias político-sociais e econômicas experimentadas pela
sociedade brasileira. Antes, temos de exigir de nós mesmos um envolvimento
profundo com as condições deste momento, assumindo nossas sombras pessoais e
enfrentar os fatores políticos do processo em curso, do contrário, as nossas
estruturas psicológicas e sociais sofrerão fortes abalos. A conscientização
política e psicológica é o fundamento da vida democrática de um povo.
Temos de entrar em acordo, depressa,
com a nossa memória histórica. Quando o tempo passado se ausenta, o presente é
romantizado. O apagamento e desapego da história enganam com uma aparente
inofensiva inocência.
Portanto, o desenvolvimento político
passa por um desenvolvimento psicológico quando nos relacionamos com os fatores
inconscientes que nos levam a um distanciamento dos processos históricos da
nossa democracia. O processo democrático real depende da relação política com as
nossas zonas externas e internas, do mundo real e do reino interior, da relação
consciência e inconsciente.
A Bandeira Brasileira tem mais do
que “Ordem e Progresso” – empobrecemos o processo político interno e externo se
nos identificarmos com isto, apenas. Temos de ir além da beleza sentimental da
imagem verde e amarela.
“Aquilo a que damos o nome de
civilização, [...] tem uma outra face, a de uma ave de rapina cruelmente tensa,
espreitando a próxima vítima, face digna de uma raça de larápios e de piratas.
Todas a águias e outros animais rapaces que ornam nossos escudos heráldicos me
parecem os representantes psicológicos apropriados de nossa verdadeira
natureza”, afirma C. G. Jung (Memórias, sonhos, reflexões. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2015, p. 250).
(Sílvio
Lopes Peres – Psic. Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a
Analista pela Associação Junguiana do Brasil (AJB/Campinas), filiada à IAAP –
International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: (14) 99805.1090 / (14) 98137.8535)